quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Como explicar ou entender o mapa mundi

Sistema de Projeções Cartográficas

Projeções Cartográficas

Comparações entre Planisférios



Projeção de Peters


 Por Caroline Faria

Durante muito tempo a Projeção de Mercator  foi a mais utilizada para representar a superfície terrestre. Porém, em 1973, Arno Peters, cartógrafo e historiador alemão, criou uma projeção que ele mesmo chamou de “mapa para um mundo solidário”.

Projeção de Peters. Ilustração: Mike Linksvayer [Public domain], via Wikimedia Commons


A projeção de Peters é uma projeção cilíndrica tangente aos pólos, parecida com a de Mercator, mas com a diferença fundamental de representar, o mais próximo possível da realidade, a proporção de tamanho entre os continentes sem se preocupar com a equivalência das distâncias.
Na projeção de Peters (ou “Projeção Equivalente de Peters”) os paralelos estão separados a intervalos crescentes desde os pólos até o Equador e, por isso, os continentes situados entre os paralelos 60º norte e sul apresentam uma deformação (alongamento) no sentido norte-sul, sendo que os continentes que se situam em uma latitude elevada (Groenlândia, Canadá...) apresentam um achatamento no sentido norte-sul e um alongamento proposital (para haver correspondência em tamanho) no sentido leste-oeste.

Outra diferença desta projeção para a de Mercator é que os paralelos estão separados por uma distância menor, fazendo com que os continentes em latitudes menores que 60º (mais próximos do equador) fiquem mais “finos” (ou, com que haja um achatamento no sentido leste-oeste).

Devido a estas mudanças nas posições dos paralelos, a Projeção de Peters apresenta a Europa e a União Soviética bem menor, e a África é que ocupa o centro da projeção.

Por isso, a projeção de Peters é tida como uma projeção ideologicamente “terceiro-mundista”. Ela apresenta uma proporção real entre os continentes onde os países de primeiro mundo não são maiores que os países do terceiro-mundo, no sentido literal e metafórico.

Tanto é que a Projeção de Peters foi utilizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) como uma tentativa de sensibilizar os países do primeiro mundo acerca da pobreza dos outros países.

http://www.infoescola.com/cartografia/projecao-de-peters/

Projeção de Mercator


 Por Caroline Faria  

Gerardus Mercator Rupelmundanus, ou Gerhard Kremer como era seu nome original, foi um cartógrafo belga nascido em 1512 e que em 1569 revolucionou a cartografia ao conseguir a façanha de representar o globo terrestre em um retângulo plano, a “Projeção de Mercator”, na época, chamado por ele de “Nova et aucta orbis terrae descriptio ad usum navigantium emendate accommodata”.


Projeção de Mercator. Ilustração: Strebe  [CC-BY-SA-3.0 (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0)], via Wikimedia Commons

Felizmente, Mercator era melhor com mapas do que com nomes e sua projeção foi, por séculos, utilizada na navegação (como o nome original sugeria), fazendo com que todas as cartas náuticas usadas até então se tornassem obsoletas e, sendo até hoje usada em muitos atlas e, praticamente, em todos os mapas de fusos horários.
Mercator conseguira, utilizando 24 linhas verticais (meridianos) e 12 horizontais (paralelos) que iam se afastando umas das outras conforme se aproximavam dos pólos, representar todos os continentes da terra em um mapa que podia ser utilizado para traçar rotas através de “curvas-traçado” (que ele chamava de “loxódromo”) de maneira surpreendentemente eficiente para a época.

Mas, como toda projeção cartográfica, a de Mercator possui uma distorção, só que nos pólos. Devido à forma como são representados, os continentes afastados da linha do Equador (Europa, Canadá, Groenlândia, etc.) ficam maiores do que são na realidade. Um exemplo comum utilizado, é a Groenlândia que, na Projeção de Mercator aparece maior que a América do Sul, quando, na verdade, a América do Sul é bem maior.

Essa distorção cartográfica faz com que a precisão na medição das distâncias seja tanto prejudicada quanto maior for a latitude da rota medida. O que, porém não prejudicou o trabalho de Mercator que passou a ser considerado o pai da cartografia.

A partir da projeção de Mercator foram feitas outras formas de projeção: a “Mercator Transversa”, projeção cilíndrica com o plano tangente ao Equador e usada em mapeamentos topográficos e base para projeção UTM; a “Oblíqua de Mercator”, com o plano tangente a um círculo máximo qualquer que não é o Equador nem o meridiano de Greenwich e é usado para projetar imagens de satélite no sistema Landsat, serviu de base para a projeção SOM (Space Oblique Mercator) e para mapear regiões como o Alaska, que se estendem em direção oblíqua; e, a “Projeção Equivalente de Lambert”, que é parecida com a de Mercator só que com o plano tangente ao Equador, de forma que a escala na linha do Equador é a real e conforme vai se aproximando dos pólos vai diminuindo. Causando uma distorção aparente, inversamente proporcional a da projeção de Mercator.



GIS, Cartografia e Matemática


Por MundoGEO 

Por Eduardo de Rezende Francisco

Deparei-me recentemente com o artigo “A Matemática e a Cartografia”, de Geraldo Ávila (Revista do Professor de Matemática, 65, de 2008), que traz um pouco da história da aproximação entre essas duas ciências. Reproduzo aqui parte desse artigo, estendendo-o para episódios históricos que abordam o advento das geotecnologias.


A Cartografia, arte de fazer mapas, tem uma história antiga, que remonta a milênios antes de Cristo. Nos tempos modernos, a partir de meados do século XV, a elaboração de mapas tornou-se uma atividade de interesse crescente, principalmente devido às grandes navegações, que exigiam mapas cada vez mais confiáveis. Desde a origem da Cartografia, a Matemática sempre constituiu a base para a formulação e construção do conteúdo desse campo do conhecimento, da representação gráfica da superfície terrestre e dos objetos geográficos. Escala, proporções, coordenadas geográficas, projeções cartográficas, fuso horário, e muitos outros, são conceitos matemáticos fundamentais para a leitura de mapas.
Mapas do mundo conhecido foram feitos desde tempos bem remotos. De todos esses mapas, o mapa-mundi de Cláudio Ptolomeu (83 – 161 d.C.) teve vida bem longa, servindo a seus contemporâneos ainda no tempo do Império Romano, passando pelos árabes e voltando à Europa ainda na Idade Média.
Esse mapa encontra-se em sua importante obra, Geographia (Geographiké Hyphegesis), que influenciou cartógrafos, navegadores e astrônomos do século XV e boa parte do século XVI.

Mapa de Ptolomeu

As navegações foram um grande estímulo para que se intensificassem os esforços na confecção de mapas cada vez mais informativos e confiáveis, dentre os quais o mapa (e a projeção) de Mercator, que ficou sendo o mais importante e famoso até os dias de hoje. Assim, com o tempo, o mapa de Ptolomeu foi perdendo importância prática.


Gerhard Kremmer (1512-1594) foi um geógrafo e cartógrafo natural de Flandres, que atualmente faz parte da Bélgica. Ele ficou conhecido pelo seu nome latinizado Gerardus Mercator (Kremmer significa mercador). Seu famoso mapa data de 1569, e revolucionou a Cartografia.
Sua principal característica era a de ter, em um mapa plano, as linhas de rumo retas fazendo ângulos constantes com os meridianos. Até esse advento, não havia mapas com essas características.
Aos poucos os navegadores foram percebendo a vantagem em precisão e facilidade de navegação que ele oferecia.
Durante toda essa época, e até meados do século XVIII, os cartógrafos procuravam descobrir uma maneira de fazer mapas de grandes regiões, ou mesmo de todo o globo terrestre, de forma a reproduzir as diferentes localidades da Terra preservando, com exatidão e na mesma escala, as várias distâncias entre elas. Isso perdurou até que o grande matemático Leonard Euler (1707-1783) demonstrou a impossibilidade desse intento.

Mapa de Mercator

Um ramo da Matemática, do qual Euler pode ser dito como um dos fundadores, é conhecido por Teoria dos Grafos, uma parte hoje adulta e independente da Topologia.

Esta é, grosseiramente, o estudo das formas das figuras geométricas e das propriedades qualitativas das transformações contínuas entre tais figuras. O século XVIII a conheceu como Geometria Situs e mais tarde a denominação Topologia Combinatória se disseminou até advir a enorme expansão do assunto no século XX.

A resolução do famoso problema das sete pontes de Königsberg por Euler, em 1736, é considerada como sendo um dos primeiros resultados topológicos (falaremos mais especificamente sobre esse assunto em um próximo artigo). Mais ainda, dentre as mais conhecidas descobertas de Euler está aquela contida na fórmula que relaciona o número de vértices, áreas e faces de um poliedro. Mais tarde, tal resultado serviu de base para a definição da “característica de Euler”, que foi utilizada por H. Poincaré (1854-1912) para a classificação das superfícies, um dos principais invariantes da moderna Topologia.

As relações topológicas entre elementos geográficos – continência, pertinência, conectividade e proximidade – são utilizadas amplamente na representação e análise dos objetos geográficos, vetoriais e raster, desde sua criação, na década de 1960, e sua vida profissional, a partir da década de 1980. Dentre elas estão a análise de rede e a roteirização, que se utilizam da conectividade entre elementos vetoriais, exemplos da apropriação da Teoria dos Grafos no geoprocessamento.


A determinação do melhor, ou menor, roteiro, funcionalidade extremamente útil para logística, despacho de veículos, planejamento de trânsito e apoio a aplicações urbanas com GPSs embarcados, teve uma contribuição importante do matemático e cientista da computação holandês Edsger Dijkstra (1930-2002), conhecido também por suas contribuições nas áreas de desenvolvimento de algoritmos, linguagens de programação, sistemas operacionais e processamento distribuído. O algoritmo para o problema do caminho mínimo em redes, desenvolvido em 1959 e popularmente conhecido por algoritmo de Dijkstra, está implementado em praticamente todas as ferramentas de geoprocessamento comerciais e livres.
Sem dúvida, esse passeio histórico merece ser enriquecido por muitos outros episódios. Poderíamos enveredar por toda a teoria que sustenta a localização GNSS, ou pelos desdobramentos dos modelos de representação da Terra, elipsóides, geóides e projeções cartográficas, ou mesmo buscar na Matemática Aplicada e na Computação outros fundamentos que são utilizados em sofisticadas minerações de dados, ou tratar da teoria computacional que sustenta o recente 3D-GIS e sua interface com a realidade virtual. Convido os leitores a ajudarem nesse processo.

Eduardo de Rezende Francisco é mestre e doutorando em administração de empresas pela FGV-EAESP, bacharel em ciência da computação pelo IME-USP, atua em GIS, business intelligence, pesquisas de mercado e estratégias de marketing na AES Eletropaulo, é consultor em integração Geomarketing & Data Mining e presidente da Gita Brasil (www.gita.org.br)

Bibliografia

Ávila, Geraldo. A Matemática e a Cartografia, Revista do Professor de Matemática, número 65, pg. 4-11, São Paulo, 2008.
De La Penha, G. M. Euler e a Topologia, Revista do Professor de Matemática, número 3, pg. 12-14, São Paulo, 1986.
Wikipedia. Ptolomeu, Euler, Dijkstra, Topologia. Disponível em www.wikipedia.org .
Davis, Clodoveu. Caminho Mínimo em Redes. Publicações Prodabel, Belo Horizonte, 2001.
Rocha, M. L. P. C. & Espírito Santo, A. O. Matemática e Cartografia: Como a Cartografia pode Contribuir no Processo Ensino-Aprendizagem da Matemática?, CEFET, Belém, Pará, 2003.


Bônus: a resolução do teorema de Euler
Em tempo, vamos explicar e demonstrar o resultado de Leonard Euler a respeito de projeções cartográficas.
Esse resultado data de 1775, de sorte que até esse ano os cartógrafos continuavam sua faina em busca de um mapa plano do globo terrestre ou de uma região do globo com a propriedade de que todas as distâncias entre diferentes lugares se mantivessem inalteradas. Mais especificamente, o que se busca provar: é possível construir um mapa plano do globo terrestre, ou de uma parte do globo, com uma escala fixa, ou seja, sem distorções? Dito de outra maneira, é possível construir um mapa plano para o qual a distância entre quaisquer dois de seus pontos é sempre igual a um múltiplo fixo da distância ao longo dos pontos correspondentes no globo, medida ao longo do círculo máximo por esses pontos?
A demonstração de que isso é impossível é tão simples que é de admirar que ninguém a tivesse descoberto bem antes de Euler.
Para provar essa impossibilidade, basta considerar uma pequena região ao redor de um ponto P do globo, este representado na figura abaixo por uma esfera de raio R. Para simplificar, vamos supor que R já tenha sido escolhido de forma que o mapa esférico e o mapa plano estejam na mesma escala. Assim, raciocinando por absurdo, um arco de comprimento r ao longo de um grande círculo da esfera seria transformado num segmento retilíneo de comprimento igual no mapa plano. Repare que os pontos Q na esfera, com PQ=r, formam uma circunferência de raio s<r, cuja imagem no mapa plano é uma circunferência de raio r, portanto, de comprimento 2πr. Ao mesmo tempo, o comprimento dessa circunferência deveria ser 2πs, pois ela é imagem de uma circunferência de raio s. Mas, como s<r, isso contradiz a afirmação anterior e conclui a demonstração.


Qualquer pessoa que tenha desfrutado o prazer de comer uma boa tangerina sabe que é impossível transformar sua casca, ou parte dela, num objeto plano. O mesmo é verdade de uma bola de borracha rasgada. E há de reconhecer, nessas experiências, a presença do resultado de Euler.

fonte: http://mundogeo.com/blog/2008/05/31/gis-cartografia-e-matematica/



O que é Cartografia




Por Caroline Faria  

De acordo com algumas definições a cartografia é a ciência que trata dos estudos e operações tanto científicas e técnicas, quanto artísticas, relacionadas à elaboração e utilização das cartas (ou mapas) de acordo com determinados sistemas de projeção e uma determinada escala.

O primeiro mapa de que se tem notícia foi feito em uma tábua redonda de argila por volta de 2.300 a.C. na região da Mesopotâmia (atual Iraque). Era apenas uma representação de um rio, provavelmente o rio Eufrates, circundando montanhas. Outros registros, datando de 1.000 a.C., foram encontrados no Egito em tumbas, onde os desenhos representavam paisagens locais, trilhas e rios.

Essa representação feita pelos babilônios é considerada como o primeiro mapa-múndi da história por representar o mundo na concepção de seus autores, mesmo que na verdade, a terra seja bem diferente disso.

Mas foi na Grécia que surgiram as primeiras tentativas de se estabelecer métodos para a confecção destes mapas. Por volta de 500 a.C. Hecateu de Mileto produziu um livro onde representava a terra como um disco com a Grécia no centro que foi considerada o primeiro livro de geografia da história. E, mais tarde, Claudius Ptolomeu, que viveu entre 90 e 168 d.C., publicou um tratado sobre geografia composto por oito volumes e que entraria para história por conter uma nova representação do mundo com regras para representá-lo na forma esférica, bem mais próximo dos utilizados atualmente.

Mais foi só a partir do século XII que, através do relato de viajantes e navegadores, iniciou-se a produção de mapas que incluíam regiões maiores do globo. Embora com muitos erros e exageros por parte dos relatores.

O período das “Grandes Navegações” (século XV) foi uma época de grande produção de mapas e cartas. Mas era comum encontrar representados nessas cartas, além das regiões a navegar, figuras mitológicas e monstros marinhos.

Foi, também, no século XV que Gerard Mercator desenvolveu um método para representar as características de um objeto curvo (a terra) em uma superfície plana. Depois, a partir do século XVIII e da invenção de telescópios a cartografia começou a se desenvolver, mas, só atingiria seu auge nas décadas de 1970 e 1980 com o surgimento de bancos de dados digitais sobre o tamanho, as formas da terra e o seu estudo, a geodésia.

Mas, não podemos deixar de lado, descobertas e ideias de outros pensadores, cientistas e inventores que ajudaram no desenvolvimento dos conceitos ligados a cartografia, como, por exemplo, Copérnico que revolucionou a concepção do universo ao confrontar o geocentrismo aristotélico com sua teoria heliocêntrica. Erastótenes que foi o primeiro a calcular o raio da terra em 240 a.C. Alexander Von Humboldt que foi o primeiro a usar isotermas (curvas que unem os pontos, em um plano cartográfico, que representam as mesmas temperaturas na unidade de tempo considerada) para representar regiões de mesma temperatura, a empregar o conceito de “meio ambiente geográfico” ao afirmar que as características da fauna e da flora dependem das condições climáticas, relevo e latitude do local. Também foi ele quem demonstrou pela primeira vez a variação da intensidade magnética dos polos ao equador situando o equador magnético no Peru, além de muitas outras descobertas relacionadas ao estudo da terra, do vulcanismo e das correntes marítimas. E, também, Fernão de Magalhães, navegador português a serviço da Espanha e que foi o primeiro a circunavegar o globo, além de muitos outros estudiosos que contribuíram para a consolidação da cartografia.


fonte:http://www.infoescola.com/cartografia/o-que-e-cartografia/